O grande cedro ainda se encontrava no mesmo sítio. Os anos tinham passado e ele ali permanecia, grande, forte, inabalável. Ela deu uma volta em redor da grandiosa árvore, passando os seus dedos pela dura casca que brilhava em certas partes devido à resina que a cobria. O mesmo local, o mesmo sítio onde outrora fora tão feliz. Encostou-se ao grande tronco, onde ficou amparada, com as mãos atrás das costas, mantendo assim o contacto com aquela árvore, como se isso a fizesse voltar de novo àqueles tempos dos quais sentia tantas saudades. Fechou os olhos. Os cinco sentidos ficaram apurados...o cheiro a terra molhada era o mesmo, aquele cheiro que ela tanto gostava. Ouviu de novo as gargalhadas puras e sonoras dadas com tanta facilidade, viu os sorrisos alegres e os olhos cintilantes daqueles que com ela partilharam brincadeiras sem fim. Sentiu novamente o ar fresco daquela manhã, as gotinhas de orvalho nos seus cabelos já desalinhados, a pele macia e quente das mãos do mais novo, a pele áspera que demonstrava anos de trabalho do mais velho. E então num misto de lembrança real e sonho...
- Mais rápido avô!!! Mais rápido!!
- gritou ela com a adrenalina a contagiar-lhe todo o corpo, enquanto balançava freneticamente as pernas para que o baloiço subisse mais alto.
- Se te empurro com mais força o mais certo é dares a volta ao tronco e ficares presa nele! – disse o avô soltando uma sonora gargalhada.
- Não faz mal! Eu não me importo! Não tenho medo...tu estás aqui e podes-me salvar!
disse envergando um semblante confiante.
- Só tu mesmo minha pequenita!! Ainda bem que voltaste já tinha saudades tuas!
disse ela saltando do baloiço ainda em andamento.
- Sim! Eu bem te disse que era um até já e não um adeus! disse o avô abraçando-a.
- Eu sei...mas senti a tua falta !E tive medo...pensei que não voltasses mais.
- Nada disso...aquilo já se torna uma rotina, sabes como é, aqueles quartos frios são o meu segundo quarto e aquele pessoal de bata branca são os meus segundos entes queridos!
disse o avô piscando-lhe o olho.
- O que é isso que trazes aí?
- É uma Borboleta! Não me esqueci o quanto as adoras.
-Obrigado. Eu sei que não... disse ela esboçando um leve sorriso. Baloiças-me novamente
- Claro!! E durante horas que pareceram infinitas, houve brincadeira, cantaram-se canções, o avô contou-lhes aquelas histórias que só ele sabia e aquelas adivinhas que a faziam pensar durante tempos e tempos enquanto o Avô sorria para ela divertido
- Bem rapariga está na hora de ir embora.
Ambos se levantaram e deram um beijo na face .
- Onde vais? Perguntou ela curiosa
- Vou olhar o céu.
-Vamos percorrê-lo juntos?
- Talvez um dia, daqui a muito e muitos anos. disse o avô passando carinhosamente a mão na cabeça dela.
- E voltas? perguntou ela começando a ficar triste.
- Estejamos onde estivermos estaremos sempre juntos. Não é um adeus...é um até sempre! Virou costas e desapareceu no intenso nevoeiro. Ela abriu os olhos. Tinha o rosto molhado. Um aperto no peito. O dia estava soalheiro, um céu limpo sem uma única nuvem. Contemplou-o durante alguns minutos e derramando uma lágrima solitária disse: “ Estejas onde estiveres, estaremos sempre juntos....até sempre!”
Recordando o meu avô.