quarta-feira, 23 de abril de 2008

Amores que matam.

"Segundo dados da Associação de Apoio à Vítima (APAV), a violência doméstica aumentou 10% no primeiro semestre de 2007. (...) Em 2006, segundo dados da APAV, 112 mulheres foram vítimas de violência doméstica por dia. A Associação apoiou uma média de 36 utentes/por dia. (...) De acordo com dados oficiais, 6818 casos de violência doméstica denunciados foram praticados contra o cônjuge." Tribuna da Madeira - n.º 438
Os números não são subjectivos, nem nos podem deixar indiferentes: em Portugal a violência doméstica não é ficção, é pura realidade. Aparentemente, as mulheres casadas são as principais vítimas. A palavra "aparentemente" é usada intencionalmente, porque existem outras vítimas, tão importantes quanto as agredidas, que muitas vezes são esquecidas no drama da violência doméstica: as crianças. Por trás do silêncio destas, existe frequentemente um sofrimento sem fim e marcas que por vezes ficam para toda a vida. Isto acontece porque, no cenário de guerra, a luta é travada entre pessoas com as quais a criança se identifica e que são, para ela, figuras de suporte. Testemunhar a violência de um pai sobre o outro, produz efeitos tão negativos, tão maus na criança como quando ela é o alvo directo da violência por parte dos pais. Quando o conflito se instala dentro de portas, não há forma de poupar sofrimento aos mais pequenos pois, ainda que se trate de bebés, estes captam os sinais de guerra, mesmo não lhes sabendo dar um nome, nem compreendendo o seu significado. Logo que as crianças começam a fazer uma leitura dos conflitos, muitas vezes fazem-no de forma incorrecta, atribuindo a si próprias a responsabilidade pelo mau trato físico ou pelas discussões constantes entre os pais. Frequentemente, os próprios pais, em vez de tentarem minorar o sofrimento das crianças, usam-nas como uma "arma" contra o outro progenitor. Chega de fechar os olhos, chega de encolher os ombros, chega de viver amaldiçoadas pelo medo, Chega de arranjar desculpas para o que não tem desculpa, se não tem coragem de o fazer por vocês façam-no pelas vossas crianças, pelos vossos filhos. Não entendo nos dias de hoje como ainda existem situações de maus-tratos, de violência doméstica e vejo as pessoas encolherem os ombros e deixarem andar. Será que estão tão cegas que pensam que haverá melhoras? Um homem que mal trate uma mulher seja física ou psicologicamente nunca muda, mas nunca muda mesmo. Será por medo ou têm dificuldade ou vergonha de reconhecer que são vitimas? Caramba as vitimas são vocês, vergonha do que? Quem tem de se envergonhar de algo são os agressores. E nada melhor, muitas vezes leva a morte ou a depressão. Por não terem uma vida económica estável? Vão a luta… vão ver que são capazes de coisas incríveis que nunca achariam possível. Custa-me falar do assunto, pois nunca trás boas recordações… Alias nem a mim nem a ninguém. Mas quero deixar um exemplo, um motivo de força, uma esperança. Eu já fui vitima de maus-tratos… primeiro foram os psicológicos, mas com esses eu até passava bem, pois graças a Deus nunca conseguiram mexer com a minha Auto-Estima, mas claro que me sentia em baixo, mesmo sendo forte o agressor é quase sempre mais esperto e mais forte que a vitima. Vivi quatro anos assim, até que um belo dia, ou não, passou do psicológico para o físico… Mas foi a primeira e a ultima vez que alguém me chegou a tocar, muito menos com a minha filha bebé ao colo. Fugi de casa sim, com ela nos braços e sem nada… sem casa para onde ir, sem emprego pois trabalhava na empresa dele, sem dinheiro pois as contas foram logo todas canceladas, sem o apoio da família, dos meus pais, pois quem casa na cabeça deles não se separa, ainda hoje por incrível que pareça e passando 6 anos o meu pai ainda não olha para mim como dantes por eu me ter divorciado. Foram tempos difíceis sim, foi difícil para mim de um momento para o outro ficar sozinha e sem nada, mas felizmente tive uma amiga que me deu a mão, e um tio também, arranjei emprego logo a seguir e aqui estou eu… Feliz, sem marcas para esconder, sem medos para me assombrarem, a minha filha não tem traumas e ainda bem, pois eu tive a coragem de dizer chega e dar a ela um ambiente saudável. Eu sei que o medo de arriscar é muito, mas não deve ser o motivo para fechar os olhos e deixar que estas coisas continuem a acontecer, não acredito que continuem a fechar os olhos por acharem que não são capazes, são sim… eu sei que sim, não só por vocês mas pelos vossos filhos.
É importante saber que há vários sítios onde se podem dirigir quem necessitar de auxílio e sendo assim aqui deixo alguns contactos. APAV - Tem uma linha verde (707 20 00 77) para onde se pode telefonar anonimamente e fazer a denúncia. FUNDAÇÃO BISSAYA BARRETO - Está vocacionada para a assistência social, tem um gabinete que dá apoio à violência doméstica sobre crianças e mulheres. Entra em www.fbb.pt ou liga 239 800 400. COMISSÃO PARA A IGUALDADE E PARA OS DIREITOS DAS MULHERES (CIDM) - Dispõe de uma gabinete de apoio com técnicos especializados e de um serviço de informação às vítimas de violência doméstica. Liga o 800 202 148 ou entra em www.cidm.pt

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