O vento sopra lá fora fortemente, tão forte que faz com que as ondas rebentem junto ao pontão, com tamanha violência que parecem trovões a rebentar, o som é tão forte que abafa os outros sons.
Penso porque será que está zangado ou revoltado para soprar com tamanha ira e força.
A luz à muito que já faltou e no meio desta escuridão, somente a luz de uma pobre vela ilumina este imenso quarto frio e solitário.
Afasto-me vagarosamente da janela, a noite já vai alta e eu não consigo dormir, tenho passado a noite a caminhar por entre a sala e o quarto, na esperança de encontrar algo ou alguém, pois sinto uma estranha presença em meu redor, nada que me assuste bem pelo contrario até me trás uma certa calma, uma calma que já não sentia à muito.
Sento-me na beira da minha cama e vejo a que julgo ser a minha imagem reflectida no espelho. Sinto-me cansada, sozinha, apagada, tão apagada quanto este quarto velho.
Comos os anos passaram e eu nem dei conta deles, não reconheço a minha imagem, pois a imagem que guardo de mim é outra completamente diferente desta que o espelho teima em me mostrar. Não recordo o meu cabelo branco mas sim negro como as penas de um corvo, não recordo esta pele pálida e enrugada, mas sim uma morena e lisa, não reconheço este corpo curvado e desfigurado, mas sim um esbelto.
Quem é aquela ali afinal? Sou eu, sou um eu que teimo em não querer ver, sou um eu que prefere manter uma imagem antiga guardada do que a aceitar a realidade dos anos.
Acho que deve ser assim quando chega a velhice e não se quer aceitar que chegou o fim, não se quer aceitar que fomos derrotadas numa guerra contra o tempo.
Sinto um arrepio na nuca, um vento suave e frio, como o respirar de alguém por detrás de nós. Sabe bem, deixo-me estar assim quieta agora deitada sobre a minha cama a sentir este suave e calmo respirar.
Sinto-te chegar devagar… tão devagar que mal dou por ti, mas sei que estás aqui.
Não és cruel como te descrevem em tantos livros e como te fazem transparecer em tantos filmes, pelo contrário, és meiga e cuidadosa.
Embalas-me nos teus braços suavemente e aconchegas-me no teu peito, eu sabia que não estava sozinha esta noite.
Aos poucos deixo-me adormecer com um sorriso nos lábios, e deixo que me leves sem oferecer resistência, sei que de nada vale tentar resistir e também sei que chegou a minha hora de partir, e quero que saibam que parto a sorrir.
Já foste ver "A tempestade" na quinta da regaleira (Sintra)? É uma peça de teatro num conceito muito original. Eu gostei...
ResponderEliminarTb gostei da tua paixão pelo que observas, pelos teus, pelo que te rodeia.